Cirurgiões cardiovasculares que atendem pela rede pública estiveram na Comissão de Saúde nesta terça-feira (6). Na reunião, eles pediram ajuda aos deputados para esclarecer o governador Renato Casagrande (PSB) sobre a paralisação dos procedimentos cardíacos. Os parlamentares disseram que tentarão viabilizar uma audiência com o Executivo.
Álbum de fotos da reunião da Comissão de Saúde
Desde 16 de agosto as operações cardíacas realizadas em hospitais filantrópicos foram interrompidas. Segundo o advogado dos médicos, Paulo Henrique Cunha da Silva, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) está ciente da “insustentabilidade dos serviços”, assim como os hospitais. Em junho, um prazo de 75 dias foi dado para que medidas fossem adotadas, mas nada foi feito, de acordo com o advogado.
As dificuldades relatadas por Silva começaram em outubro de 2021 e consistem na ausência sistemática de pagamento dos profissionais e na redução unilateral do número de cirurgias - os filantrópicos alegam subfinancimento por parte do SUS. Além da parte financeira, há questões relacionadas à dificuldade de atendimento dos pacientes e à falta de condições de trabalho.
“A gente buscou hoje a Assembleia Legislativa para que o governador tome pé daquilo que é real, daquilo que efetivamente está acontecendo. Acho que ele não sabe da situação, não sabe o que está acontecendo. Estão passando para ele uma verdade ‘envernizada’ e não uma verdade real. A situação está colapsando por ausência de controle, de governo e de fiscalização”, destacou o advogado.
“Nossa discussão aqui não é por dinheiro, nossa discussão aqui é sobre respeito”, salientou Silva. De acordo com ele, o serviço de cirurgia cardiovascular não parou mesmo com uma dívida de R$ 6 milhões existente junto aos hospitais filantrópicos. Ele também lembrou que esses mesmos profissionais recebem remuneração maior no serviço particular.
O valor da dívida e a interrupção no pagamento pelos serviços foram informados à Sesa. O convidado teceu críticas à pasta: “Quando o agente público deixa de agir no seu dever de ofício, isso tem nome, isso é prevaricação”, afirmou. “A população vai acabar sendo desassistida, mas não por culpa dos cirurgiões cardiovasculares”, completou.
O cenário atual já acarretou pelo menos 60 mortes, afirmou o cirurgião José Carone Júnior. O colega Carlos Alberto Sancio Junior revelou que, desde outubro de 2021, o número de cirurgias no Hospital Evangélico de Vila Velha caiu de 40 para 20 por mês. Por isso, cerca de 200 pacientes ficaram sem o procedimento; muitos dos quais chegam em estado grave e outros poderão nem ser atendidos porque podem morrer antes.
Os hospitais que ofertam os procedimentos pelo SUS são os Evangélicos de Vila Velha e de Cachoeiro, Santa Casa de Vitória, São José (Colatina) e Rio Doce (Linhares). Conforme Paulo Henrique Silva, pelo atendimento nessas unidades os médicos recebem cerca de R$ 60 por hora e já chegaram a arcar do próprio bolso o pagamento da equipe para que uma operação não deixasse de ser feita. O serviço é contratado por meio de uma empresa particular.
O presidente da Comissão de Saúde, Doutor Hércules (Patri), disse que tentará uma agenda com o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, para debater a situação. Já o deputado Theodorico Ferraço (PP), que participou da reunião como convidado, informou que buscará viabilizar uma reunião entre Casagrande e uma comissão formada pelos médicos.
O parlamentar Luciano Machado (PSB), membro do colegiado, afirmou que vai procurar a Sesa ainda nesta terça para saber sobre a situação envolvendo a paralisação das cirurgias cardiovasculares. De acordo com Doutor Hércules, o Ministério Público do Estado (MPES) receberá o material do que foi discutido na reunião.
Além do presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), Fabrício Otávio Gaburro Teixeira, médicos cirurgiões de diversas partes do estado acompanharam o debate.